Construções em Saint-Louis foram destruídas recentemente pelas altas marés
SAINT-LOUIS, SENEGAL – As casas na praia parecem um cenário de guerra. Tudo o que sobrou de uma mesquita vizinha é um monte de blocos de concreto e vergalhões de ferro retorcidos.
A culpa é do oceano.
As ondas fustigam cada vez mais as construções neste lugar, carregam a areia e comem os alicerces até que as paredes desabam e os pisos afundam.
Recentemente, Massamba Diaw, 70, apontou para uma pilha de escombros na areia.
“Há dois meses, nós estávamos bem ali, embaixo de um teto”, contou. Como a maioria dos homens do seu bairro, Diaw era pescador. E como muitas das casas dos vizinhos, a sua hoje está desmoronando.
“Estamos todos muito tristes, e nos sentimos ameaçados”, disse Diaw, afastando os netos do limite do andar térreo, que agora está exposto ao vento e à chuva. “O que farão estas crianças no futuro?”
A erosão das linhas costeiras hoje é um problema global, agravado pela elevação do nível do mar decorrente da mudança climática. Mas o impacto é particularmente agudo em Saint-Louis, principalmente na Langue de Barbarie, uma estreita península de areia com cerca de 20 quilômetros de extensão, e menos de 180 metros de largura em alguns lugares.
“Na década passada, as pessoas começaram a sofrer realmente a fúria da erosão da costa”, afirmou Latyr Fall, vice-prefeito para assuntos econômicos.
Saint-Louis, uma cidade de mais de 232 mil habitantes, colonizada inicialmente pelos franceses nos século 17, é dividida em duas partes pelo Rio Senegal. No lado Leste, no continente, surge a maior parte da moderna Saint-Louis. A Oeste, está a Langue de Barbary, que separa o rio do oceano até ambos se unirem.
No meio, há uma ilha que se tornou Patrimônio Mundial da Unesco, em 2000, e hospeda eventos culturais. A erosão não é muito discutida, disse Staffan Martikainen, um finlandês que dirige um programa artístico no lugar.
“É surpreendente, tendo em vista o fato de que tanto a península dos pescadores quanto a ilha poderão desaparecer dentro de duas gerações, que os preços dos imóveis não baixem”, observou.
Mas nos bairros pobres da Langue de Barbarie, a erosão costeira é uma ameaça imediata, e está sendo construído um dique a título de proteção temporária. Também foram propostas soluções a prazo mais longo: como a construção de quebra-mares ou um novo muro para amortecer o impacto do mar, o assoreamento das praias ou a limpeza destas com a finalidade de criar uma defesa.
Cerca de 80 mil pessoas vivem na Langue de Barbarie. Muitas pertencem ao grupo étnico Lebou, tradicionalmente uma comunidade de pescadores. Mas a maioria das 250 famílias que perderam suas casas com a erosão foi realocada em um campo, a vários quilômetros de distância, em terra firme.
Abdou Gueye, 42, é o chefe de uma delas. “Agora, precisamos pagar o transporte até o oceano”, ele disse.
Ahmet Diagne, 53, morava em Doun Baba Dièye, uma aldeia ao sul de Saint-Louis. Mas em 2003, na pressa de escoar as águas da inundação que subiam ao redor da cidade, as autoridades senegalesas escavaram um canal na Langue de Barbárie.
O fosso foi se alargando rapidamente, provocando a erosão em aldeias que estavam protegidas deste risco, e submergindo Doun Baba Dièye. Em 2009, os moradores começaram a se mudar para o interior.
FONTE: TERRA