SEGURAR O MAR É UM DESAFIO.

Uma experiência de contenção de erosão marinha no litoral do Ceará, apresentada ontem no seminário promovido pelo Parlamento Metropolitano, no auditório da Agência Condepe/Fidem, acabou roubando a cena. O modelo cearense, copiado de Alagoas, adota uma tecnologia denominada bagwall (uma espécie de escadaria subterrânea feita em blocos de concreto para dissipar a energia da onda, no trecho onde há erosão). No Ceará, o modelo implantado no ano passado em um trecho de 1,3km da praia de Icaraí, no município de Caucaia, conseguiu reverter, em três meses, o processo de erosão e restaurou naturalmente cerca de 50m de faixa de areia, sem necessidade da engorda artificial. Em pelo menos dois aspectos a proposta do Ceará chamou a atenção dos participantes: a recuperação da faixa de areia e o custo da obra, que corresponde a cerca de um quarto do que está sendo proposto para o litoral pernambucano pela Coastal Planning.

Apesar do entusiasmo do engenheiro e vice-prefeito de Caucaia, Paulo Guerra, que foi convidado pelo Parlamento Metropolitano para apresentar a experiência de lá, junto com o engenheiro responsável pelas obras do Ceará e de Alagoas, Marco Lyra, nada deverá mudar em relação aos projetos já apresentados pelo estado para conter o processo erosivo e recuperar as praias dos municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista. 

De acordo com Paulo Guerra, o modelo cearense teve a aprovação do Ministério da Integração Nacional. “O ministério ficou bastante impressionado com os resultados que nós conseguimos no Ceará. Eu não conheço nenhum outro modelo que tenha a mesma eficiência e a um custo acessível”, revelou. Segundo ele, a implantação do bagwall em 1,3km custou R$ 6 milhões. “A engorda artificial em um quilômetro de trecho linear custa em média R$ 25 milhões”, comparou.A coordenadora do projeto de contenção do avanço do mar no estado, Andréa Olinto, defende o modelo da Coastal Planning. “Não há como fazer comparações. A obra deles é de contenção do processo de erosão. A nossa proposta é muito mais ampla de recuperação e regeneração das praias”, afirmou. O professor Valdir Manso, doutor em oceanografia e participou dos estudos do Monitoramento Ambiental Integrado (MAI) e está à frente de uma pesquisa em busca de jazidas para a engorda da praia, também defende a proposta da Coastal. “Todo o trabalho proposto aqui é baseado em estudo. A recuperação de 1km de praia não é exatamente um parâmetro para o que está sendo proposto para o nosso litoral”, ressaltou.